Sem palavras
O chinês Lao-Tzu filosofou no século 2: “Palavras em demasia se esgotam. Melhor é guardar o que está no coração”. Tamanha sabedoria, entretanto, parece ter perdido um pouco de seu sentido para nós, ocidentais. Desaprendemos o valor do silêncio e fazemos de tudo para preenchê-lo – nem que seja com discursos vazios.Ter discernimento ao falar e aprender a calar são, mais que uma meta, um caminho para a paz interior.
A beleza de uma paisagem tem o poder de nos calar. Enlevados pela visão da mata, do mar ou do horizonte aberto, não há a necessidade de dizer nada. O peito desaperta, o espírito se apazigua, e vem a sensação de estarmos totalmente vivos nesse instante.
No dia-a-dia, entretanto, experimentamos a situação oposta. Engolidos por um massa de ruídos produzidos por obras, automóveis, gente, levamos para dentro de nós a agitação externa, que se traduz em ansiedade e angústia. E a devolvemos para o exterior falando, falando e falando até mesmo sem pensar.
Esquecemos os valiosos ensinamentos contidos nos provérbios que a cultura popular cunhou para enfatizar a importância do silêncio: “falar é prata, calar é ouro”, “bom é saber calar até o tempo de falar” e até o divertido “em boca fechada não entra mosca”. São conselhos que, inadvertidamente, contrariamos o tempo todo. Mas isso é compreensível. Vivemos numa sociedade extrovertida, que valoriza as atitudes incisivas e onde tudo se fala, tudo se discute.
Segundo o taoísmo – uma grande escola dos filósofos chineses, que floresceu entre os séculos 6 e 4 a.C, o Universo é regido pelas energias yin e yang. A primeira remete a repouso e introspecção, e a segunda, a movimento e expansão. “Nossa sociedade é exageradamente yang, ruidosa, agitada, nervosa. Para equilibrar as energias, é fundamental silenciar, o que é yin”, afirma Wagner Canaloga, sacerdote da Sociedade Taoísta do Brasil.
Neste mundo yang, muita gente tem dificuldade de encarar a quietude. Na praia, alto-falantes a todo volume tornam inaudível o barulho das ondas, mas ninguém parece se importar. Quando todos se calam na roda de amigos, alguém sempre solta uma piada ou comentário para quebrar o gelo – e o silêncio.
Em casa, a TV fica ligada sem que ninguém assista – diz-se que isso faz companhia. Para muitos, a ausência de ruído os coloca de frente à necessidade incômoda de ter de suprir o próprio vazio.
Quando acompanhados, sentem urgência de falar, qualquer coisa que seja, como se calados deixassem expostas a falta de assunto, de diálogo, de interesses em comum. E não deveria ser assim. A verborragia é vazia, e o silêncio, repleto de emoção e significados.
Economizar palavras nada tem a ver com a dificuldade de se comunicar ou mesmo de prestar atenção em quem está ao lado. Também não tem relação com o que não é dito e o que é escondido ou reprimido. Nem com as lacunas que podem se abrir na convivência entre casais, pais e filhos. O silêncio une e não separa, pois por meio dele também se constrói a intimidade – é gostoso quando o vínculo se estabelece com um sorriso, um olhar ou um gesto, sem necessidade de palavras. O silêncio conforta, apazigua, restaura forças. É pacífico, nunca hostil. Contemplação, inspiração e comunhão também cabem na palavra silêncio.
Silenciar externamente quase sempre só é possível quando a mente está serena. Piores que os ruídos externos são os internos, provocados por pensamentos desordenados. Nosso incessante carrossel mental provoca o descontrole verbal e nos aprisionamos nesse círculo vicioso... ao desacelerar a mente e melhorar a qualidade dos pensamentos, nos conectamos a nossa essência. Aí descobrimos as emoções, os sentimentos e os valores mais caros a nós...
Em geral, quem não se concede a chance de silenciar não permite que quem esteja ao lado conquiste a sua. No vácuo que se abre com o silêncio, nascem a insegurança, a desconfiança e, com elas, a urgência de saber o que se passa na cabeça do outro...
Às vezes, a forma mais fácil de amenizar o ruído interior é mudar a rotina, sair de casa, viajar para um lugar tranqüilo, longe dos problemas e até das pessoas. Ir para uma praia pouco freqüentada, para a montanha, relaxar num spa ou visitar templos e mosteiros, por exemplo. Mas isso pode ter um efeito apenas paliativo ou temporário e logo se volta ao velho padrão de agitação mental e verbal.
É preciso encontrar a pacificação interna em qualquer lugar. Nesse estágio, os sentimentos afloram, e os barulhos externos já não perturbam tanto. A psicologia, as filosofias e a religiões traduzem essa experiência, cada uma a seu jeito...
Para silenciar:
• Desacelere. Programe viagens para lugares tranqüilos, onde possa relaxar e escutar os sons da natureza. Em templos e espaços religiosos, também se cultiva o silêncio interior.
• Desconecte-se. De vez em quando, desligue o telefone, a TV, rádio e outras fontes de barulho. Procure se aquietar e não falar. Deite-se ou tome um banho relaxante, por exemplo.
• Focalize. Concentre-se no presente e mantenha a mente livre dos pensamentos desnecessários: eles contribuem para o ruído interno, que estimula a ânsia de falar.
• Não fale por falar. Preste atenção se seu jeito de se comunicar não é seco ou ríspido. Sem querer, você pode ser mal interpretado e magoar os outros. E meça mais as palavras.
• Medite. Encontre a técnica que melhor se encaixa em sua rotina. Basicamente, todas ensinam a se sentar ereto, relaxar e deixar passar os pensamentos, sem retê-los.
• Reze. Em todas as religiões, a prece é uma forma de interiorização que conduz à paz de espírito e ao silêncio interior.
(texto Wilson Weigl – revista Bons Fluídos, Agosto de 2006)
Bom feriadão
abraços
xeee
A beleza de uma paisagem tem o poder de nos calar. Enlevados pela visão da mata, do mar ou do horizonte aberto, não há a necessidade de dizer nada. O peito desaperta, o espírito se apazigua, e vem a sensação de estarmos totalmente vivos nesse instante.
No dia-a-dia, entretanto, experimentamos a situação oposta. Engolidos por um massa de ruídos produzidos por obras, automóveis, gente, levamos para dentro de nós a agitação externa, que se traduz em ansiedade e angústia. E a devolvemos para o exterior falando, falando e falando até mesmo sem pensar.
Esquecemos os valiosos ensinamentos contidos nos provérbios que a cultura popular cunhou para enfatizar a importância do silêncio: “falar é prata, calar é ouro”, “bom é saber calar até o tempo de falar” e até o divertido “em boca fechada não entra mosca”. São conselhos que, inadvertidamente, contrariamos o tempo todo. Mas isso é compreensível. Vivemos numa sociedade extrovertida, que valoriza as atitudes incisivas e onde tudo se fala, tudo se discute.
Segundo o taoísmo – uma grande escola dos filósofos chineses, que floresceu entre os séculos 6 e 4 a.C, o Universo é regido pelas energias yin e yang. A primeira remete a repouso e introspecção, e a segunda, a movimento e expansão. “Nossa sociedade é exageradamente yang, ruidosa, agitada, nervosa. Para equilibrar as energias, é fundamental silenciar, o que é yin”, afirma Wagner Canaloga, sacerdote da Sociedade Taoísta do Brasil.
Neste mundo yang, muita gente tem dificuldade de encarar a quietude. Na praia, alto-falantes a todo volume tornam inaudível o barulho das ondas, mas ninguém parece se importar. Quando todos se calam na roda de amigos, alguém sempre solta uma piada ou comentário para quebrar o gelo – e o silêncio.
Em casa, a TV fica ligada sem que ninguém assista – diz-se que isso faz companhia. Para muitos, a ausência de ruído os coloca de frente à necessidade incômoda de ter de suprir o próprio vazio.
Quando acompanhados, sentem urgência de falar, qualquer coisa que seja, como se calados deixassem expostas a falta de assunto, de diálogo, de interesses em comum. E não deveria ser assim. A verborragia é vazia, e o silêncio, repleto de emoção e significados.
Economizar palavras nada tem a ver com a dificuldade de se comunicar ou mesmo de prestar atenção em quem está ao lado. Também não tem relação com o que não é dito e o que é escondido ou reprimido. Nem com as lacunas que podem se abrir na convivência entre casais, pais e filhos. O silêncio une e não separa, pois por meio dele também se constrói a intimidade – é gostoso quando o vínculo se estabelece com um sorriso, um olhar ou um gesto, sem necessidade de palavras. O silêncio conforta, apazigua, restaura forças. É pacífico, nunca hostil. Contemplação, inspiração e comunhão também cabem na palavra silêncio.
Silenciar externamente quase sempre só é possível quando a mente está serena. Piores que os ruídos externos são os internos, provocados por pensamentos desordenados. Nosso incessante carrossel mental provoca o descontrole verbal e nos aprisionamos nesse círculo vicioso... ao desacelerar a mente e melhorar a qualidade dos pensamentos, nos conectamos a nossa essência. Aí descobrimos as emoções, os sentimentos e os valores mais caros a nós...
Em geral, quem não se concede a chance de silenciar não permite que quem esteja ao lado conquiste a sua. No vácuo que se abre com o silêncio, nascem a insegurança, a desconfiança e, com elas, a urgência de saber o que se passa na cabeça do outro...
Às vezes, a forma mais fácil de amenizar o ruído interior é mudar a rotina, sair de casa, viajar para um lugar tranqüilo, longe dos problemas e até das pessoas. Ir para uma praia pouco freqüentada, para a montanha, relaxar num spa ou visitar templos e mosteiros, por exemplo. Mas isso pode ter um efeito apenas paliativo ou temporário e logo se volta ao velho padrão de agitação mental e verbal.
É preciso encontrar a pacificação interna em qualquer lugar. Nesse estágio, os sentimentos afloram, e os barulhos externos já não perturbam tanto. A psicologia, as filosofias e a religiões traduzem essa experiência, cada uma a seu jeito...
Para silenciar:
• Desacelere. Programe viagens para lugares tranqüilos, onde possa relaxar e escutar os sons da natureza. Em templos e espaços religiosos, também se cultiva o silêncio interior.
• Desconecte-se. De vez em quando, desligue o telefone, a TV, rádio e outras fontes de barulho. Procure se aquietar e não falar. Deite-se ou tome um banho relaxante, por exemplo.
• Focalize. Concentre-se no presente e mantenha a mente livre dos pensamentos desnecessários: eles contribuem para o ruído interno, que estimula a ânsia de falar.
• Não fale por falar. Preste atenção se seu jeito de se comunicar não é seco ou ríspido. Sem querer, você pode ser mal interpretado e magoar os outros. E meça mais as palavras.
• Medite. Encontre a técnica que melhor se encaixa em sua rotina. Basicamente, todas ensinam a se sentar ereto, relaxar e deixar passar os pensamentos, sem retê-los.
• Reze. Em todas as religiões, a prece é uma forma de interiorização que conduz à paz de espírito e ao silêncio interior.
(texto Wilson Weigl – revista Bons Fluídos, Agosto de 2006)
Bom feriadão
abraços
xeee
1 Comments:
Xee,
Sem Palavras...
Bom Feriadão.
Que Deus te Abençoe,
Abraços,
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